Mestre Waldemar da Paixão, da Liberdade, da Avenida Peixe, capoeirista conhecido pelos seus berimbaus coloridos e por sua voz inconfundível. Iniciou na capoeira com 20 anos de idade, em 1936, foi aluno de Canário Pardo, Periperi, Talabi, Siri de Mangue e Ricardo de Ilha de Maré. Começou a ensinar capoeira em 1940, na Estrada da Liberdade, no inicio era ao ar livre e depois passou para um barracão de palha que ele mesmo construiu. O local virou ponto de encontro dos capoeiristas baianos, e aos poucos a roda de mestre Waldemar foi se tornando muito famosa e todos os capoeiristas da Bahia iam lá jogar.
Eu me chamo Waldemar Rodrigues da Paixão, conhecido como mestre Waldemar da Pero Vaz. Sou um dos velhos capoeiristas, como chamam; não estou jogando mais. Tenho quarenta e seis anos de capoeira, de ensino da capoeira e quatro que levei aprendendo. Considero-me o mais velho capoeirista da Bahia; depois de Bimba e Pastinha sou o mais velho. Eu tive quatro mestres. Tive Siri de Mangue, capoeirista velho, já é morto. Canário Pardo, Ricardo e um por nome Talabi. Porque todos os mestres que eram bons eu pedia pra me ensinar, então a gente tem que dar valor a todos os quatro, porque eu aprendi com os quatro. Aprendi capoeira em 1936, levei quatro anos aprendendo. Em 1940 eu peguei a ensinar aqui no Pero Vaz.
O esporte da capoeira deu em minha mente, eu fiquei gostando. Como a gente quando vê uma mulher e gosta, se apaixona, assim eu me apaixonei pelo esporte da capoeira. E até hoje aguento mão dela. Tenho amor ao esporte da capoeira.
Eu vendo uma roda de capoeira lá no Periperi, tinha aqueles mestres velhos, antigos, então eu pedi pra aprender. Naquele tempo não existia academia tinha outra roda no Periperi e a academia era onde tivesse uma sombra boa, fazia aquele ringue e então vinha capoeirista de tudo quando era lugar. Não precisava avisar, todos sabiam que domingo a tarde o esporte era capoeira. Cada um levava seu berimbau, quem tinha berimbau levava. Eles tinham aquele ranço de bondade, quem tinha berimbau levava, quem não tinha, não levava, mas era assim.
Quem me ensinou a tocar foi Siri de Mangue. Cantar a gente canta, ninguém ensina a cantar. Pode ensinar, mas não tendo voz não adianta. Se você não tiver voz, eu não posso ensinar. Porque eu canto de um jeito, eu canto entoado, ele já canta desentoado, então não quero que digam que ensinei bobagem a alguém. A voz, a gente nasce com ela.
No meu tempo, quando capoeirista levantava o pé, ele sabia que ia pegar. Ai voltava o pé, não precisava pegar mesmo. Aqueles rabos-de-arraia pra tirar pescoço, aquilo eu cansei de dar. Eu marcava três vezes, na quarta eu soltava. Depois das três, você já estava ativo pra se defender, porque aqueles rabos-de-arraia, se você dá logo de uma vez e ele não espera, recebe no pé-do-ouvido, cai e não levanta mais. Então a gente faz aqueles enganos.
Mas isso pertence ao Angola, ao Jogo de Angola. Faz que vai, volta o pé, engana, quando o camarada já esta acostumado, acostumou três vezes vendo aquilo e ele não solta, quando ele não espera é que vem.
Já hoje é assim: vum-vum, rabo-de-arraia, cinco, seis, o nego não sabe o que está fazendo, está desentendido ali, cada um cuidando de si. Angola não, é diferente. Você vai, sabe o que esta fazendo o seu adversário também sabe. Estão se entendendo. Quando um marca de uma forma, o outro marca de outra.
No meu tempo, mestre era muito respeitado. A minha roda, os meus alunos, eles me respeitavam muito, os meus. Eles não eram bestas de fazer nada fora do meu mandado.
Fonte: http://www.curingacapoeira.com/mestres.htm
http://www.orgsites.com/ri/riccapoeira/_pgg2.php3#MNOR
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